Autopiedade – um caminho para a autodestruição

Postado por Rafael

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Ritual de Passagem – Lenda dos índios Cherokees

Na história dos Cherokees (nativos da América do Norte) existe uma lenda que fala sobre o rito de passagem da juventude para a maturidade:

Ao final de uma tarde, o pai leva seu filho para a floresta, no alto de uma montanha, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho. O jovem fica lá, sentado, sozinho, toda a noite, e não poderá remover a venda dos olhos até os raios do sol brilharem no dia seguinte. Ele não poderá gritar por socorro. Se conseguir passar a noite toda lá, será considerado um homem.

O menino ficará naturalmente amedrontado. É possível que ouça barulhos de toda espécie. Os animais selvagens poderão estar ao redor dele. Talvez possa ser ameaçado por outro humano. Insetos e cobras poderão feri-lo. É provável que sinta frio, fome e sede. O vento soprará a grama, as árvores balançarão, mas ele se manterá sentado sem remover a venda.

Finalmente, após a noite de provações, quando o sol aparece e a venda é removida. Segundo os Cherokees, esse é o único modo de se tornar homem.

Todas as antigas tradições tinham seus próprios rituais, suas maneiras de preparar seus descendentes para conhecer e enfrentar um de seus piores inimigos: a auto piedade, a pena de si mesmo.

Ter pena de si mesmo é viver de braços amarrados; ela evita que façamos as melhores escolhas como forma de “evitar o sofrimento”… Mas que sofrimento? Aquele que projetamos no mundo através do nosso medo.

Aprendo a observar seu diálogo interno

Embora a auto piedade seja fácil de ser identificada através da observação de nossos pensamentos mais persistentes – a incessante e desnecessária voz que a humanidade mantém constantemente em sua mente – algumas pessoas as têm em tamanha proporção que não fazem questão de esconder isso, e o que é pior, parecem estar sempre buscando alguém a quem repetir sua mesma canção: “estou doente…”, “você não sabe tudo que eu sofri…”, “fulano me decepcionou”, “meu namorado me trata mal…”, “meus filhos não me querem”, “minha mãe é culpada pela minha situação” e por aí vai…

Ainda que este mal afete a todos em diferentes graus, pessoas com depressão são classicamente vítimas deste mal. São tipos que preferem se render a enfrentar a si próprias. O mesmo acontece com obesidade ou baixa autoestima: “ninguém me quer”, “não sei o que fazer”, “eu não consigo…”, “não posso…”, “alguém vai aparecer e me ajudar”…

Reclamações, culpas, ressentimentos, frustrações, tristezas e medos são sempre motivados pela pena de si, são sempre histórias tristes onde o personagem central e sofredor é quem as conta – infelizmente, sem “dar-se conta” de que tudo não passa de projeções de suas fantasias. São frases e enredos que reforçam a todo o momento o seu papel de pobre vítima do mundo. Observe as pessoas ao seu redor com esse padrão, vai perceber que estão sempre em dificuldades: pode ser a saúde, o peso, relacionamentos, a profissão. Não sobra energia pra mais nada quando gastamos nosso tempo nos protegendo…

E o que seria de um contador de histórias sem platéia?

Existem ouvintes que sentem um prazer mórbido com estas tristes canções, realmente gostam de se compadecer da situação “do pobrezinho” porque, no fundo, se compadecem de sua própria. São ávidos por novidades ruins, se sentem mais aliviados por saber que não são os únicos mal pagos pela vida…

Bem, como vivemos num mundo de espelhamentos, vejamos agora as coisas por outro ângulo: você tem pena de alguém? Talvez de uma classe ou grupo social? Talvez sinta isso por algum parente ou amigo? Quem sabe você diga: “ohh, tadinho”… ou fique aflito com escolhas de pessoas próximas. Sinto dizer, mas só sentimos pena dos outros quando também a temos por nós mesmos…

Auto piedade ilude nossos olhos nos impedindo de ver com clareza, estanca nossas possibilidades e tira nosso poder pessoal porque nos dá a sensação de que somos sempre vítimas das circunstâncias – quando na realidade somos os criadores de nosso mundo. Parece que tudo conspira contra você porque nada dá certo! Então o jeito é sentar e chorar – e aguardar por um eterno amanhã e, quem sabe um dia, tudo melhore magicamente. Mas não espere que isso vá acontecer – não pelo menos até que você faça a sua parte. “A Deus rogando e com o malho dando” – é o que diz o adágio…

Mais uma vez, ninguém vive desta forma porque gosta. Em muitos casos, trata-se de um vício emocional; em outras, do medo de ser diferente. A resistência por mudanças, mesmo positivas, é sempre um obstáculo ao fim do sofrimento.

Mas não é necessário viver nesta prisão emocional

A idéia é bastante simples: retire o sentimento negativo e o sofrimento automaticamente desaparece. Não existe dor sem negatividade, nem negatividade que não seja filha da própria inconsciência: o ato de criar mais circunstâncias nocivas, mais elementos de angustia pra si próprio.

Agora vamos relembrar o conto do início do texto: “Ele não poderá gritar por socorro” – porque precisa aprender a enfrentar seus próprios medos, os verdadeiros criadores de seus problemas. É desta maneira que o menino se torna um guerreiro, e somente assim tem força e coragem pra enfrentar o mundo. Mas a lenda não termina aí:

“Quando amanhece e ele tira a venda, descobre seu pai sentado na montanha, próximo a ele. Estava ali, a noite inteira, protegendo seu filho do perigo.”

E esta também é uma parte importante da lição: nem tudo é o que parece – algumas vezes, faz-se necessário apenas tirar nossa própria veo!

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